domingo, agosto 28, 2011

O vazio de Marrie

Não vá perdê-lo de vista, ele está tão frágil como um floco de neve. Falando em neve... Percebeu todo esse frio? Eu observei a ausência de Marrie, ela está tão só que não deixa que a percebam. Sente seu peito congelando, sente falta de abraços quentes e involuntários que aconchegavam seu coração. Mesmo não querendo isso, entra em conflito com sua própria alma. O que está acontecendo? Ela se perde em uma mesma pergunta.

Se a chuva passasse e o sol voltasse forte e tornasse o dia convidativo, talvez ela chamasse sua velha amiga que mora tão perto, para fazer o que faziam antigamente, rir de seus deslizes e falar sobre o quanto meninas ficam bobas com qualquer doce palavra daquele rapaz de olhos sorridentes. E a chuva continua, o frio aumenta, o cabelo longo coçou Marrie nem o lava mais, ela simplesmente não tira seu pijama e vive trancada num mundo de pensamentos e tédio, com algumas esperanças de fato, alguns planos... Só que eu não a culpo por não correr atrás dos seus sonhos, a pequena menina obteve apenas tropeços, ela está tão cansada que se deixou desleixar.

Os pacientes saberão que Marrie acertou no alvo errado quando quis apenas a felicidade de uma amiga. Sophie havia sido deixada pelo namorado Robert, estava com sentimentos tão ruins em seu peito, que Marrie já não sabia se a amiga estava realmente sensata. De qualquer forma, a amiga tão desesperada lhe implorou com muita tristeza ajuda e ela disse sim, que iria ficar o tempo que fosse junto com a amiga até que ela se recuperasse do trauma de perder o seu amor. Por duas semanas, Marrie ficou na casa de Sophie, aconselhando, oferecendo seu ombro, suas palavras de amizade, porém, nem isso fazia com que Sophie se acalmasse. Numa noite, ela, Sophie, surtou. Não conseguia dormir, cochilava e era assombrada por pesadelos, e então resolveu que iria à casa de Robert atormenta-lo, e assim fez. Pobre Marrie, se tornou um poço de nervosismo, não sabia o que fazer! Tentava segurar Sophie pelo braço, mas dizem que nossa força pode dobrar quando se está fora de si e realmente foi o que parecia, aquela flagela garota, estava forte, conseguiu sair de casa e entrar em seu carro. Por sorte Marrie conseguiu entrar também.

Enfim, Sophie chegou a casa de seu ex-namorado, depois de estar com os ouvidos cheios das palavras de Marrie, começou a gritar como louca chamando Robert e ao mesmo tempo batia forte na porta. Marrie mantinha a esperança que iria acalmar a amiga e fazer com que ela recuperasse seu juízo. Tentando conter Sophie, nem percebeu o barulho dos passos de Robert descendo a escada, pois ele já estava ali não entendendo nada, mas com uma expressão de culpa, seus cabelos ruivos um tanto compridos estavam bagunçados e quando perguntou o que estava acontecendo, podia se perceber que tinha acabado de acordar. Quando Sophie o viu começou a chorar e abraça-lo, estava tocando seu rosto e repetindo que o amava e que o queria de volta. Ele dizia que não tinha volta, que ela tinha que aceitar o que estava acontecendo, nem tudo seria do seu jeito e tentava afasta-la, foi quando Sophie olhou dentro de seus olhos e começou a puxar sua camiseta até rasga-la, gritava palavras como “não” e a cada instante se exaltava mais.

Robert decidiu chama-la para conversar e Marrie entrou junto com os dois. Com sua voz calma, tentou conter aquela situação toda, então a nervosa Sophie se mostrou desta vez calma, disse para Marrie que ela poderia ir à frente, pois ela queria voltar sozinha para casa e antes disso queria lavar o rosto no banheiro da casa de Robert. Já era tarde para voltar só, mas ela realmente acreditou que Sophie estava bem e decidiu deixar a amiga fazer o que ela achasse melhor, e assim fez, andou até um ponto de táxi que o levou para a casa de Sophie e chegando lá logo adormeceu.

Na manhã seguinte, Marrie acordou e olhou ao seu redor, viu Sophie dormindo com um sorriso em seu rosto e fez com que aquilo a trouxesse harmonia. Andou até o banheiro, porém, ao passar pelo corredor se deparou com Robert sentado no corredor, adormecido, com um corte na cabeça, amarrado e com um lenço cobrindo sua boca. Não sei descrever a reação de Marrie, mas aquilo a chocou bastante e então correu até o quarto e chamou Sophie. Ela havia se dissimulado naquela noite e era tudo para trazer Roberto para perto, tinha quebrado um copo de vidro na cabeça do amado para fazê-lo desmaiar e traze-lo para perto. Bom... Foi o que ela contou para a amiga, sem nenhuma tentativa de se justificar e estranhamente com um tom de que agora tudo estava bem.

Depois de escutar aquelas palavras, juntou suas coisas e foi para sua casa. Mais uma vez não quero culpar Marrie pela sua atitude, ela estava em estado de choque. Chegou, pensou em chamar a policia, o que seria o certo, só que gostava tanto de sua amiga que sabia que o que ela precisava não era da cadeia, mas sim de tratamento, ela estava doente, doente de amor, pelo menos no começo foi assim, amor também é doença, já o que isso resultou dentro de Sophie, Marrie não sabia.

Ficou apenas na indecisão, ligava para Sophie e ela não atendia, pensava em ir até lá, mas lhe faltava coragem e por fim chorava, às vezes até do nada, ela nem sabia o que sentia mais, sentia pena de Robert, sentia pena de Sophie também. Acima de tudo e surpreendentemente, sentia pena de si mesma. Aquela pequena garota, cheia de manias, de pele branca e cabelos castanhos que mais pareciam caracóis, estava tão vazia que sentia algo como um abismo. Em busca de encontrar um motivo para viver, tomou sua primeira decisão: não iria esperar que Deus lhe presenteasse, pois naquela garota ainda não existia o merecimento. Tirou seu pijama e caprichou na roupa e na maquiagem, a sua vaidade mesmo naquela circunstancia falou alto e ela queria que Robert a notasse, mesmo com o nervosismo que ele deveria estar. Marrie nunca tivera um namorado, já suas amigas eram cheias de garotos e festas, principalmente Sophie, que havia estado com o menino mais lindo que Marrie já viu! Robert era como os garotos de filmes estrangeiros, difícil de encontrar.

Saiu de casa e quando chegou lá sentiu suas mãos suando ao tocar a campainha, demorou um pouco, mas Sophie abriu a porta e sem pensar Marrie passou por Sophie e foi a procura de Robert. O encontrou no mesmo estado de quando ela tinha partido para voltar a sua casa, tirou o pano que cobria a boca dele e tentou acorda-lo. Ele estava tão fraco que mal conseguia falar, perguntou se ele queria algo para beber e assim que ele acentiu com a cabeça correu em busca de um copo com água. Ajudou Robert a tomar a água e segurou o copo para ele, até que em um instante Marrie viu os olhos de Robert arregalados e confusa olhou para trás. Apenas viu sua amiga com um copo em mãos e tudo escureceu.

Acordou em seu quarto, correu para o espelho e não conseguiu observar nenhum ferimento. Marrie estava com o coração pulando, olhou pela janela e tinha sol, olhou as horas, era meio dia e meia. Confusa, resolveu ir a cozinha tomar um pouco de leite. Voltou para seu quarto e o telefone tocou: “Oi Marrie, é a Sô! Já que finalmente fez sol e a gente nunca mais se viu, vamos sair? Queria desabafar sobre o Robert, nosso namoro não anda bem.”.